segunda-feira, 30 de maio de 2016

Relicário/Esquadrinhando a quarta

Gibis velhos, gibis novos, o retorno de velhos amigos e um dia que eu achei que não veria chegando, chegou. :-)

"Scooby: Apocalypse #1"




Pelo amor de todos os demônios do inferno, olhem pros nomes na equipe de produção desse gibi. Howard Porter, Keith Giffen e J.M. DeMatteis Não tinha como dar errado. O revamp da scooby gang é ousado a ponto de realmente tornar esses personagens, novos, mas não a ponto de descaracteriza-los. O que os torna especiais continua lá.
E vem com certos elementos clássicos mas abraçando coisinhas aqui e ali das versões mais recentes dos personagens (Daphne e Fred continuam envolvidos com o programa de TV apresentado pela ruiva, investigando eventos sobrenaturais/fantásticos). As duas grandes mudanças aqui vem no tom, do gibi, mais sério e urgente (ou não? pq a série de tv mais recente do grupo "Scooby Doo! Mystery Inc." já tinha certo tom mais adulto que as aventurazinhas da semana que a gangue vivia em séries anteriores).


E no fato de que os 5 não começam já reunidos, como de praxe, mas vão se conhecendo conforme o quadrinho avança. Daphne e Fred trabalham juntos no já citado programa de tv da garota. Welma é uma cientista num organização cientifica trabalhando junto aos militares e Salsicha é um dos contratados dela. O rapaz (com o visual mais mudado de todos do grupo e danem-se vcs, eu curti pra caralho. MAS, eu sou um hipster sujo, então....) é um treinador de cachorros contratado para cuidar de um dos experimentos da instalação: cães com inteligencia aumentada e implantes cibernéticos, criados para serem armas vivas do exército. E todos eles se mostram experimentos bem sucedidos......... exceto um, dócil e bonachão demais. :-) Apiedado, Norville (mano, eu nunca vou me acostumar com o nome real do Salsicha) decide cuidar do bicho e assim surge uma das duplas mais famosas dos desenhos animados.



Daphne e Fred recebem uma informação anônima sobre um experimento da fundação científica que deu errado, vindo de uma das mentes responsáveis do projeto em pessoa (a preferida de 9 em cada 10 nerds, Welma Dinkley).



Um evento aqui, outro acolá e....temos a reunião do grupo. E aí....bem.... aí o apocalipse começa. Excelente começo. Porter manda benzaço na arte e não inventa (muito) no visual dos personagens. Fred segue o jock fortão e ligeiramente imbecil,

Who you gonna call?
Daphne segue sendo a ruiva que, junto com a garotinha ruiva dos Peanuts, April O'Neil e Mary Jane Watson Parker, é a responsável por todo nerd ter fetiche por gurias com cabelos rubros (eu incluso).



Welma dá uma encolhida, lembrando o visual dela de "o pequeno scooby doo".


Shaggy, como ja dito, vira um hipster com um cuidado absurdo na manutenção do seu bigode. E Scooby segue o cachorro gigante adorável de sempre.

and I am a certified G and a Bonafide Stud AND YOU CAN'T. TEACH. THAT.!!!
Excelente primeira edição com uma história fill-in ao final narrando o dia em que Shaggy e o cachorrão se conheceram e o final é encantador.



Teenage Mutant Ninja Turtles TPBs #01 e #02 (IDW)




Não é segredo nenhum: a IDW mita absolutamente quando o assunto é "gibis licenciados de franquias antigas". Me atrevo a dizer que He-Man, Thundercats e Ghostbusters NUNCA foram tão legais como nas páginas das hqs da editora. 
O mesmo não se aplica aos gibis das tartarugas ninjas apenas pq as diferentes versões das histórias dos 4 quelônios praticantes de ninjutsu tem, quase todas, os seus méritos.

Quase todas?

é, little John...





....QUASE todas.....

Essa série de hqs, no entanto, é absurda de boa, e nem é a primeira vez que afirmo isso, já que já tinha colocado o gibi na minha lista de melhores do ano passado, mas por causa das 5000 coisas que eu tento fazer ao mesmo tempo, acabei não avançando na série. Agora, com mais de 10 TPBs no hd externo, resolvi seguir adiante. Pra refrescar a memória, peguei de novo os primeiros números da HQ e lembrei perfeitamente pq gostei tanto do negócio. O tom tem seus momentos de humor e leveza, mas se distancia da clássica animação dos anos 80 ou da excelente série atual em 3d da Nickelodeon. Mas também não chega aos extremos dos quadrinhos originais. A tensão é mais fruto da narrativa que de alguma cena mais gore. O lore da coisa envolve reencarnação, se diferenciando de quase todas as versões da história:


Splinter e os 4 guris verdes são reencarnações de uma família de samurais que atuava no clã do pé em sua formação original, ainda nos tempos do Japão feudal. Os 5 são mortos pela encarnação prvia do Destruidor, Oroko Saki e retomam as memórias depois que o rato que viria a se tornar o mestre Splinter é submetido a experiências de aumento de inteligência e a um banho de Ooze, elemento químico responsável pela transformação do grupo em todas as versões da história.


Nos dias atuais, o grupo tem que lidar com o ressurgimento do Foot clan, além da incursão de Krang e seu Tecnódromo. Um toque muito legal do roteiro é integrar as máscaras vermelhas que o grupo inteiro utilizava nas primeiras histórias e as máscaras coloridas, que os 4 receberam nos filmes e versões animadas e mostrar a transição entre uma situação e outra como parte do processo de desenvolvimento dos heróis. Podia falar mais mas quero me debruçar com mais cuidado em todas as diferentes versões das aventuras do grupo criado por Kevin Eastman, então, vou apenas recomendar esse material com roteiros de Tom Waltz e do próprio Eastman e arte de Dan Duncan. A arte é divertida, só pecando por ser menos "cinética" do que a que se espera de um gibi estrelado por ninjas e artistas marciais de toda sorte. Ainda assim, um dos melhores materiais protagonizadas por Michelangelo, Donatello, Raphael e Leonardo e, seguramente, a melhor série de gibis estrelada por eles. 



Before Watchmen: Dr. Manhattan



Aí, é o que eu sempre falo; fandom é uma merda. Botam na cabeça algo, e não há Cristo que consiga convence-los do contrário. E o gibi aqui resenhado incorre duplamente nisso: primeiramente, fandom gritou, quando a idéia de um prequel pra Watchmen foi anunciado, sobre a heresia que era mexer na "melhor hq de todos os tempos" (affff). E segundamente, pelo nome responsável pelos roteiros: o veterano J. Michael Straczynski. "Como assim? O cara responsável pela tenebrosa 'pecados passados' e que zoou a vida do Homem Aranha vai escrever uma história com personagens do 'escritor original'? Absurdo!!!!!"



"escritor original"..... Fanboys me matam de vergonha de vez em quando.... mas enfim....

Entendo a reclamação. Juro. O que não a torna menos imbecil. Primeiro: deixa eu colocar em caps pra deixar bem claro. aham: NÃO EXISTEM VACAS SAGRADAS. NADA É "IMEXÍVEL". Excelentes histórias estreladas pelos Watchmen, ou pelo Miracleman, ou pelos Perpétuos ou até por King Mob e seus Invisibles podem estar aí, esperando pra serem escritas por algum sujeito mais talentoso. Elas não deveriam ser podadas antes de poderem existir e serem efetivamente julgadas por funcionarem ou não apenas pelo maldito protecionismo do maldito fandom.

"ai, vão acabar com as minhas memórias"



suas malditas memórias vão continuar lá no cantinho delas, little John. Enquanto novas memórias de infância vão ser criadas na mente das pessoas tendo acesso a esse material novo.



E quanto á birra com Straczynski:



sim, a história envolvendo o caso entre Gwen Stacy e Norman Osborn é indefensável, mal escrita, mal desenvolvida. Mas
1) aquilo é obviamente uma imposição editorial.
2) As pessoas esquecem que o mesmo Straczynski de que falam tão mal é o responsável por pérolas como Babylon 5.




Ou a série Grounded, estrelada pelo Superman e que é outra que não merece a má fama que tem.
Digo heresias? então tomem essa: J. Michael, junto com John Romita jr., é responsável por aquela que é SEGURAMENTE a melhor fase do herói aracnídeo. De todos os tempos.



Esse material foi publicado por aqui, a partir da edição numero 8 da primeira série do Aranha publicada pela Panini e que culmina na número 39, se não me engano (marcada pela saída de Romita Jr. da série). 



Todo esse preambulo pra dizer que: se tivesse ouvido o fandom, teria perdido uma história que não é espetacular mas....é bem legal. Mais que isso: uma história que faz justiça ao personagem retratado. Pq ao invés de uma aventura grandiloquente, o roteirista preferiu por uma trama marcada pelo silencio. Até comentei no twitter: a mini série estrelada pelo Dr. Manhattan é marcada pela serenidade.


Eventos maiores que a vida estão ocorrendo ali, mas nada tende ao pânico extremo, já que, por mais que sejam acontecimentos potencialmente cataclísmicos, ainda assim, são vistos pela perspectiva de um deus. Alem disso: raras vezes vi uma historia estrelada por um ser onipotente que retrata tão bem o fardo que é tal condição. Straczynski e Adam Hughes, responsável pela arte, mais de uma vez brincam com os enquadramentos de página e a ordem dos eventos de forma a nos mostrar como é a perspectiva de tempo quadridimensional, tal qual a percebida por Manhattan. Aliás, falar da arte dessa mini é chover no molhado, já que o responsável é seguramente um dos maiores nomes da industria em sua área. Como já disse: retratar o espaço tempo pelos olhos do protagonista era um desafio e tanto, mas Hughes conseguiu passar a sensação de, ao mesmo tempo, liberdade e prisão absoluta concedida pelo poder absoluto.


e é sobre isso essa história: a diferença (ou semelhanças) entre destino e livre arbítrio. sim, citando o próprio Jon, o melhor de nós ainda é, apenas, uma marionete capaz de enxergar as próprias cordinhas. Mas a quem vc vai culpar pela própria inação depois que perceber que a mão manipulando tais cordinhas, por um daqueles paradoxos que a condição divina permite, é a sua própria?



DC REBIRTH #1


Oh, boy.... oh boy, oh boy, oh boy..... ok, quem me segue no twitter ou mesmo lê esse humilde blog há algum tempo já deve ter ciência disso: eu, ja há algum tempo, não sou dos maiores fãs da DC Comics.
Parte disso vem da fase absurdamente boa que a principal concorrente vinha passando: Squirrel girl, Ms. Marvel, a Thor, Vingadores e o New Avengers do Iluminatti,



Quadrinhos fora da caixa e que bebiam do elemento de legado que fazia a DC uma editora única. 



e aí vieram os new 52. E daí pra frente foi ladeira abaixo. Histórias ruins, um editorial que tornava impossível que criativos pudessem ter liberdade o suficiente pra criar, resultando num ambiente onde equipes abandonavam títulos mais rápido do que eu consigo berrar "chupa DC". Declarações infelizes do Didio como aquela clássica de que "heróis não podem se casar pq eles não deveriam ser felizes".
personagens descaracterizados. Alguns ainda insistiam em chamar de "evolução".
Eu já venho com os dois pés no peito e afirmo que isso era jogar pra torcida e tentar adaptar seus heróis pra juventude pós God of War, pós Call of Duty. Ou, pelo menos, pra caricatura que eles acreditam ser esse público. No final, salvo alguns raros acertos, dizer que a iniciativa foi um tiro no pé não seria nenhum exagero (e aí estão as listas de vendas norte americanas só pra provar meu ponto). surgiu uma esperança há pouco mais de um ano e meio com o Dc You. Vieram títulos muito bons como Grayson, Midnighter, Martian Manhunter, Omega Men e outros.... mas foi fogo de palha.
E foi anunciado o Rebirth, e eu, honestamente seguia cético. Aí começaram os boatos.
é reboot?
nao é reboot?
é o retorno da Dc pré new-52?
é o retorno do universo mais arroz com feijão?



Bom, vazou o negocio semana passada e, mesmo com alguma cautela pra não ouvir demais, alguns dos spoilers me atingiram e............o hype foi, tal qual Barry Allen na esteira do tempo, pra velocidades sub-luminares. Enfim, hoje mais cedo tive acesso ao gibi e......MEU DEUS, eu não sabia que eu sentia TANTA falta do universo DC e daquilo que o faz especial. 
E esse gibi é isso. Besteiras pseudo-edge são varridas pra debaixo do tapete e o que temos é o gibi mais coração aberto publicado pela editora em anos. Um gigantesco "foi mal pelo vacilo, galera".
Entendo se surgirem críticas dizendo que isso é um retrocesso de uma editora que periga ficar engessada a um seting específico mas invalido tais criticas ao responder que não havia nada de ousado ou particularmente criativo no cenário imediatamente posterior ao reboot mais recente. Pelo contrário. E isso é um ponto fundamental pra entender o DC Rebirth.



Primeiramente, ignorem alguns boatos. Sim, os Watchmen, e mais precisamente o Dr. Manhattan pode estar envolvido com os eventos apocalipticos narrados na HQ. Mas ainda é cedo pra concluir que ele é o vilão responsável por tudo de errado que ocorreu na vida dos heróis da editora, após os eventos de flashpoint (só pra registro: não li entrevistas com Geoff Johns ou qualquer outro artista relacionado ao Rebirth, então, se eles tiverem declarado o contrário, mals aê). Mas, vamos hipotetizar que, sim, ele é o responsável pela crise vindoura.


Se for o caso..... esse gibi pula do nível de "bom pra caralho" para "neoclássico". Mais além: ele vira um manifesto. Vindo da ultima pessoa que eu imaginei que faria algo assim. Quem diria, não? 


Vamos por partes: tudo começa com um narrador misterioso descrevendo como sua vida seguia aos trancos e barrancos até o encontro com um mentor que mudou tudo. E sua vida se tornou algo mágico........até o momento em que deixou de se-lo.


Quem é o narrador?



Oh, boy.... eu achei que eu nunca mais veria essa frase de novo. "my name is wally west and I'm the fastest man alive"
Arrepios aqui. O gibi é basicamente Wally tentando voltar do campo da velocidade, procurando alguns amigos e aliados que se lembrem dele e tentando usa-los como ancoras pra poder retornar ao "nosso" mundo. Através dessa jornada, por meio de ações diretas e indiretas, vemos um novo grupo de personagens surgindo ou voltando à ativa.
Johnny Thunder, Ryan Choi, Ted Kord e Jaimito, Kal-el (o nosso, do mundo pré reboot, o que morreu contra o Apocalypse e que casou com a Lois Lane), Linda Park, o Wally West pós reboot....



The shape of things to come. 



Até o momento em que as pontas se fecham e Flash encontra....Flash,...



No meio disso tudo, Pandora, a personagem que muitos veem como a personificação dos new 52, é desintegrada. Wally afirma que existe uma figura responsável pelo cenário sinistro e desolador do universo daqueles heróis, como se alguem tivesse conscientemente quebrado o universo. E ao final.... Marte.

A verdade é que, 30 anos atrás, Alan Moore plantou uma idéia vírus na industria, um meme (no seu sentido original) que vem devorando-a por dentro e quase acabou com ela na década de 90.


Não que seja culpa do mago de Northampton, pelo contrário. Ao criar, junto com Dave Gibbons, a clássica Watchmen, Moore queria, sim, tecer uma crítica aos super heróis mas ele nunca concebeu o gibi pra ser, não apenas a ultima palavra sobre quadrinhos do tipo, mas o norte que viria a guiar criativamente os rumos de Marvel, DC E Image, nos anos vindouros. Mas foi o que ele fez. A culpa na real, foi das 3 editoras acima citadas que decidiram que o sense of wonder era coisa de criança (ainda que esta seja a faixa etária do seu publico alvo, mas...) e que deveriam produzir um Watchmen por mês. E tomem heróis amargurados, depressivos, violentíssimos. O que era divertido ficou triste. O que era adolescente virou uma caricatura de maturidade que só é algo "adulto" na mente de uma pessoa com uma vida excessivamente triste, em minha humilde opinião. O resultado foi heróis quebrando pescoços, batendo em gente usando como armas o cadáver de um gato (não estou brincando). Todo mundo era um Wolverine em potencial. Não coincidentemente, o mutante canadense virou o simbolo de uma época.


Existiram, como sempre ocorre no campo das artes, tentativas, aqui e ali, de respostas. Algumas mais humildes: o Aquaman, o Hulk e a Young Justice de Peter David. Quase tudo que eu consigo lembrar de Mark Waid. Um monte de gibis legais, super heroicos ou não, de Grant Morrison (exemplos máximos disso seriam Flex Mentallo e All Star Superman). 


Mas nenhum assumidamente surgido como resposta, como oposição ao Watchmen-way de criar histórias superheroísticas. Bom.....nenhum até agora. Se a idéia é mostrar quer Super herois são, sim, criações legais e não apenas fantasias masculinas e fascistas de poder, então nada mais apropriado que, sim, botar o Superman pra enfiar a porrada no Doutor Manhattan.

Como vc derrota um conceito?


Com um conceito melhor.



Como vc contrapõe a bleakness de Watchmen e dos heróis sérios e violentos?


Com o ressurgimento do Flash mais jovial, mais cheio de sense of wonder de todos. e ele próprio, o simbolo de legado personificado, tendo herdado o universo DC pós crise nas infinitas terras.
Deixem-me fazer uma correção: eu disse que não havia nenhum gibi manifesto lançado em épocas recentes mas lembrei de um: Multiversity, do Morrison.


 A mão sinistra que enfia os heróis num ciclo de violência infinito que se repete era ao mesmo tempo, a dos executivos e do fandom.



Aqui, a mão ressurge e parte da responsabilidade pelo rumo que as coisas tomaram vai também para o criativo que não entendeu que não precisa querer ser Alan Moore. Ou, que seja, se quiserem tanto, podem tentar ser não apenas o Alan Moore de Watchmen, mas o de Tom Strong, o de Promethea, o da Liga extraordinária.



Rebirth é um gibi muito legal sim, mas, alem disso, pode ser um dos gibis mais importantes dos ultimos tempos. Da ultima vez que fiquei animado nesse nível, o que consegui foi a Secret Wars ano passado, que sem duvida alguma, afirmo ser a melhor megassaga da Marvel já feita. Que foi Hickman celebrando tudo que faz o universo da casa das idéias ser maravilhoso, antes de colocar uma lapide em cima.
Vejamos se vou ficar tão igualmente satisfeito ao final de Rebirth.  Mas até o momento, o Wally West pós reboot fala por mim:


Excellent!!!

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