terça-feira, 29 de setembro de 2015

Fear is a superpower: A Ilha Hashima


Sendo eu o perturbado que sou, acredito que não vai ser surpreendente pra ninguém que, em se tratando de localizações bizarras do planeta, nenhuma me causa mais fascínio do que cidades fantasmas. Mais uma vez: eu sou provavelmente um dos indivíduos mais covardes que já existiram. Sério, assistir filmes de terror comigo é uma experiencia particularmente empoderadora pra qualquer pessoa de fora, pq qualquer um se sente mais valente e bravio depois de 5 minutos ao meu lado.
Por outro lado, no entanto, é válido ressaltar que eu não tenho medo de sentir medo. Sendo fã de sci-fi, fantasia e quaisquer manifestações artísticas que lidem com esse conceito do "sense of wonder", eu tenho plena consciência que qualquer nova experiencia/conceito passa pelo momento de exploração e medo, em suas diferentes gradações, é um elemento indissociável aqui (imaginem o espirito explorador de alguém no mundo dos sonhos, segundos antes de abrir uma porta sem saber o que diabos tem atrás dela).
Cidades fantasmas, por sua vez, tem um elemento absolutamente fascinante nelas já que são elementos pós apocalípticos, não em virtude de uma guerra ou grande devastação mas apenas pela mais profunda apatia. 
Aquele era um lugar vivo e cheio de gente e, num piscar de olhos, deixou de se-lo e agora é apenas um still do processo civilizatório. Uma polaroide 3D da decadência e fragilidade dos construtos humanos. Como não ser apaixonado por algo assim? 



Ilha Hashima, no Japão, como o próprio nome entrega, se destaca nesse cenário por não ser apenas uma cidade fantasma mas uma ilha que um dia já foi um dos lugares com maior concentração populacional da Terra e em questão de dias apenas.....deixou de ser.



A parte da história da ilha que nos interessa aqui, começa lá pelos idos de 1890, quando a Mitsubishi, depois de 3 anos já habitando o local, comprou a ilha para fins de exploração de carvão, principal fonte de combustível do país. Com o tempo, o carvão foi sendo substituído pela gasolina como principal recurso energético do país e, depois de um lento processo de desintegração, as minas fecharam em 1974. No seu maior momento de concentração populacional, a ilha teve 5259 habitantes, espalhados numa área de mais de 60.000 metros quadrados. E aí...puf. A evacuação do local foi tão repentina que ainda é possível encontrar, hoje em dia, moveis e demais itens caseiros deixados para trás pelos antigos moradores (o que deve contribuir pro clima mórbido do lugar). 






Falando em clima mórbido, não podemos desconsiderar o papel da maresia no processo de corrosão dos prédios e demais construções locais. Dizem que se vc prestar atenção, vc consegue ouvir o concreto dos edifícios se partindo e desabando, ao longo do local.

"como assim 'dizem'? A ilha não é fantasma?"

Yep, e como todo local inóspito, atrai aquela parcela de turistas que acha que viajar pra Miami é coxa, brega ou simplesmente, too mainstream (o que é verdade nas 3 afirmações) e prefere locais mais...peculiares. Ou pelo menos, é assim desde que começou seu processo de reabertura, lá pelos idos dos anos 90. 



Assustador? ainda não. Dois detalhes. Primeiramente, Gunkanjima (nome original do local, que em português se traduz para "a ilha navio-de-guerra" por causa do seu formato lembrando uma battleship) era um dos locais em que funcionava um campo de trabalhos forçados, para onde, nos anos da 2ª Guerra, eram enviados os prisioneiros chineses e coreanos (os relatos são perturbadores: trabalhadores que eram malocados num quartinho com até 8 pessoas iam trabalhar, sem muita proteção, em minas que beiravam os 45 graus)
Segundamente: A arquitetura do lugar é, no mínimo....única. Os prédios eram conectados entre si por grandes pontes e escadas que, com a deterioração pós-evacuação, ganharam ares aterrorizantes. A escadaria mais sinistra do lugar (e, aliás, a maior delas) ganhou o simpático nome de "Stairway to Hell". 

Stairway to hell!!!!
convidativo, não?

Duas curiosidades: fãs de cinema de ação vão reconhecer o lugar já que era lá que ficava a base secreta de Silva, personagem vivido por Javier Bardem em "Skyfall", filme mais recente da franquia 007.
E, não menos curioso: em 2013, sabe-se lá Deus pq, o Google achou que seria uma boa idéia mandar alguém pra lá pra tirar fotos dos prédios, permitindo um tour virtual da Ilha Hashima no Street View

Se vcs gostarem do tour virtual pela ilha, agradeçam ao homem na imagem acima. 



Em 2015, a Ilha foi tombada como sitio de importância histórica pela Unesco

A entrada das minas de carvão locais
Pros que curtiram o lugar e quiserem ver mais fotos e detalhes, deixo dois links: o do site "Totoro Times", que tem uma descrição extremamente detalhada do local incluindo lugares como o labirinto 65 e o hospital local (pq visitar apenas os prédios abandonados não seria sinistro o suficiente). Desse site, aliás, veio a maioria das imagens desse post.
E o site "Hashima Island: the forgotten world", que permite, também, um tour virtual acompanhado de textos informativos sobre as locações da ilha. 

Inclusive, já que falei dele, tem um video feito pelo Google, na época, anunciando o projeto: 


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