Ok....the Zygon Invasion....
Como eu disse no texto anterior: pelos promos apresentados, já dava pra perceber que estes seriam os episódios mais políticos da temporada. Talvez, da série moderna inteira. Possivelmente, um dos mais políticos em todos os 50 anos de série.
Well....eu estava certo. Hah!!!
Já tirando do caminho: sim, o episódio usa os Zygons como uma alegoria para o ISIS (ou, em maior escala, qualquer grupo revolucionário calcado em atos terroristas e desobediência civil). Ok?
Ok....MAS......tb é uma história sobre imigração. Sobre culturas diferentes se adaptando não apenas para coexistirem pacificamente mas, e principalmente, para não se anularem no processo.
Primeiramente, preciso dizer: extremamente corajoso por parte de roteiro e direção (respectivamente de Peter Harness e Daniel Nettheim) não ter pudores em pintar os Zygons rebeldes com cores menos vilanescas do que o esperado.
Sim, eles são assustadores pra cacete, mas a causa deles tem seus méritos. 20 milhões de criaturas obrigadas a viver de uma determinada forma (não incompatível com a sua natureza, mas...) apenas pela conveniência e conforto de uma segunda espécie (Hi!!!) numericamente maior. Diabos, quantas vezes, em toda sua existência, o Doctor não esteve do lado dos alienígenas rebeldes contra uma maioria opressora? (só de memória, o episódio dos Oods com o 10th e a Donna é o que mais rapidamente me vem à mente).
Tematicamente, a temporada continua sendo sobre narrativas: percebam como os aliens transmorfos utilizam a memória dos soldados (e das demais pessoas) contra elas próprias. E o que são nossas memórias senão um conjunto de narrativas numa linha de espaço-tempo? Mais uma vez, histórias tem poder. Inclusive podendo ser utilizadas como armas.
Tb voltamos a ver a questão da responsabilidade do Doctor e das consequências de seus atos. Afinal, o que são os Zygons além de um gigantesco lembrete de uma das vezes em que o Timelord interferiu no curso da história? Só que, ao contrário das demais vezes em que o protagonista derruba impérios, destrói deuses, muda todo um cenário político cultural e vai embora, aqui ele é confrontado com os eventos decorrentes de suas escolhas. E com a perturbadora possibilidade de que, ao contrário do que se espera, o que vem depois do Doutor cruzar os céus dentro da sua TARDIS depois de salvar o dia, pode não ser, necessariamente, uma sucessão de momentos em que os envolvidos "viveram felizes para sempre".
O elenco segue absolutamente incrível. Não vou aqui, mais uma vez, rasgar elogios pra atuação de Capaldi como Doctor, ok? Provavelmente temos aqui alguém que se equipara somente ao mais talentoso dos 3 atores anteriores da série moderna, Christopher Eccleston (não me entendam mal, Tennant e Smith crescem absurdamente como atores durante seu tempo na série). Já tendo visto o episódio seguinte, sei que ele vai dar o devido tempo de tela para Jenna Coleman poder brilhar, mas, me restringindo apenas à parte um do arco, temos aqui um episódio com menos aparições de Clara Oswald. Claro que o grande twist do episódio depende da atuação dela e a atriz não decepciona (eu confesso que na primeira vez em que vi "The zygon invasion", achei que tinha sido um furo de roteiro Clara simplesmente sair do quarto dos pais do garotinho depois da forma abrupta que eles lidaram com o filho).
Por falta da Clara, quem tem a responsabilidade de dividir o protagonismo com o Doctor são Kate Lethbridge-Stewart e Osgood e ambas as atrizes (Jemma Redgrave e Ingrid Oliver) mandam muito bem.
Interessantíssimo ver como Kate é uma personagem multifacetada, sendo obviamente alguém extremamente gostável pra nós, como fãs, mas ainda assim, tendo certa estreiteza de visão muito característica da humanidade como um todo (principalmente de forma coletiva) segundo a visão do Doctor. Mas retomo esse ponto quando for falar do segundo episódio.
Imagino que fãs mais exigentes possam ter se incomodado com questões relacionadas ao roteiro (a rapidez com que Kate foi e voltou dos Estados Unidos ou o porquê do Doctor usar o avião presidencial e não a TARDIS para viajar*).
Honestamente? Nada disso me incomodou. Foi um episódio tão competente que mesmo pequenas falhas foram eclipsadas pelos seus méritos.
Alguns outros pontos:
- Ok, acho que vcs lendo isso já devem saber de uma teoria correndo por aí que diz que Clara deve morrer ao final da temporada (ou ter um final particularmente sinistro. Afinal, existem coisas piores que a morte no universo de Doctor Who) e que o Doctor já tem ciência disso, esse sendo, aliás, o conteúdo da confissão dele no disco que apareceu no "the magician's apprentice". Ok? ok. Agora, vejam essa cena:
Lembraram de algo? Nope? Que tal essa cena aqui?
Essa cena saiu do curta que antecede a segunda metade da 7ª temporada, onde o 11th Doctor aparece conversando com uma garotinha (que ao final do curta, descobrimos ser uma jovem Clara). E pq o Timelord aparenta estar tão triste? Segundo o próprio, pq ele tinha "perdido uma amiga". A amiga sendo a versão da Clara que apareceu no especial de Natal daquele ano, "The Snowmen".
Só eu acho que é muita coincidência a referência visual àquela cena?
- Osgood, em vários momentos, se definiu não como humana ou zygon, mas simplesmente, Osgood. Mas não me escapou que em certa ocasião, ela se define como "me". Isso, uma semana depois de sermos apresentadas à Lady Me/Ashildr. Identidade pessoal se revelando como um terceiro tema permeando a season 09 da série? :-)
- Vcs sabiam que a cidade de Truth or Consequences REALMENTE existe? Aliás, a escolha do local não foi uma coincidência. New Mexico, aliens, Area 51. Gosto de como, sempre que os EUA aparecem na série, é sempre com elementos universalmente estereotipados à cultura deles. Astronautas, restaurantes vintage, Richard Nixon..... Como se a série quisesse mostrar menos o país real e mais a impressão que o mundo tem dos americanos. Olha aí o elemento da narrativa de novo... ^^
* Ah sim: TECNICAMENTE, "The bells of Saint John" explica isso de forma moderadamente satisfatória: o Doctor nunca leva sua TARDIS pro campo de batalha visando evitar que os seus inimigos possam botar suas mãos/patas/tentáculos na nave mais poderosa do universo. Convincente? Vcs que decidam....
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