terça-feira, 21 de junho de 2016

Nada a ver com nada, mas.....


Tava ouvindo uma entrevista do jornalista Pedro Falcão  agora há pouco e pensando no que ele dizia e no quanto isso se conecta um pouco sobre o que eu tento fazer aqui, guardadas as devidíssimas proporções. Não apenas pq este é APENAS um blog pessoal, sem muitas ambições além de conseguir fazer alguns de vcs gostarem das mesmas coisas que eu (huahauahauahua) mas pq ele, na entrevista, se concentra principalmente em jornalismo de games, área na qual trabalha. E tema sobre o qual eu falo bem pouco aqui.
Mas, novamente, é fácil achar um elemento de conexão entre as respostas dele e crítica artística numa escala geral. E considerando os dias atuais, meio impossível não se pegar pensando em uma daquelas questões fundamentais de quem escreve sobre cultura pop que é "qual o papel da crítica especializada?", provavelmente uma daquelas perguntas tão crípticas e com respostas tão diferentes quanto "qual o limite do humor?'
Mas sei lá.....hoje mais cedo apareceram matérias sobre visitas que diversos órgãos especializados fizeram aos sets de filmagem em Londres pra ver como andam as primeiras gravações do longa da Liga da Justiça e é fascinante como, tanto os reviews mais esperançosos quanto os mais cínicos, depois de algum tempo, renderam o mesmo tipo de comentário cretino: "ain, esses jornalistas não entendem nada", "boa mesmo é a opinião dos verdadeiros fãs" e outros falsos truísmos que as pessoas gostam de vomitar de forma acrítica. Todos eles basicamente podendo ser resumidos no seguinte ponto "ain, eu discordo dele. pq a opinião dele é mais válida que a minha?"

BOM, kemosabe......PRINCIPALMENTE pq
a) todo crítico é um fã. Provavelmente maior que eu e vc juntos, já que o cara ganha resenhando aquilo, analisando aquilo, falando e respirando aquilo. 
b) nem todo crítico é um especialista. Mas deveria ser. Pq se vc vai analisar algo, QUALQUER COISA, de forma mais aprofundada, é o básico do básico: tu precisa entender do que está falando. E entender num nível que ultrapasse o básico. Sem preferências pessoais, sem preconceitos. Tem algo que o Pablo Villaça, provavelmente meu crítico de cinema favorito, costuma fazer e que eu acho muito legal: sempre antes de ir ver um filme, ele costuma anunciar no twitter que vai faze-lo e manda um "tomara que seja bom". É bem isso. Boa crítica espera encontrar algo legal em qualquer obra da mídia da qual é especialista, independente da vertente dela (que é uma coisa que eu, por exemplo, não sei fazer. Já disse pra todo mundo que, seja Marvel ou DC, geralmente eu não gosto de filmes de super heróis e quando vou vê-los, vou com os dois pés atrás). 

e se eu insisto nesse ponto sempre que posso, aqui ou lá no twitter é só pq eu fico extremamente irritado com gente relativizando opinião especializada apenas pq discorda da dela própria. 
Sim, little John, vc pode gostar ou desgostar do que quiser. Mas se quiser falar a respeito não do quanto vc se relacionou com aquilo ou não mas do quanto aquele é um exemplo bom ou não de filme/hq/jogo/livro/disco/etc, well...... arte é técnica e técnica pode ser avaliada. 
Posso ver, numa hq, por exemplo, como o desenho e as hqs dialogam um com o outro, como as cores foram usadas, a linguagem, o ritmo, o storytelling entre um quadrinho e outro...
Num filme? como iluminação e som e fotografia e atuação e roteiro e direção e etc, etc, etc.....dialogam entre si.
Num jogo? Como a narrativa e jogabilidade e mecânicas e game design e etc, etc,  convergem para um produto final satisfatório ou não. 
Isso tudo transcende o nível do "ah, achei legal". Transcende as notinhas com estrelas ou o que quer que seja. E transcende fanatismos, fanboyzismos e achismos pessoais. 
Jornalismo especializado é muito mais do que "é bom/é ruim". Se trata de mostrar por a+b PQ aquilo agradou ou não o analisador. Boa crítica vai além de dizer pq vc deve ou não comprar algo.
Boa crítica, no final, se trata de tentar mostrar pro mundo pq determinada obra alterou positivamente o meio em que se insere, pq tal mídia é melhor ou não após aquela obra ter ganhado vida.
O problema todo pra mim é isso: geral acha que críticos são nefelibatas cretinos que só falam mal das coisas e mais uma vez, "críticos SÃO fãs". É como no final de Ratatouille, quando Linguini questiona a paixão de Anton Ego e pergunta se é possível alguém tão magro gostar de comida e, mais além, ser critico de cozinha profissional e a resposta dele encapsula como a mídia especializada enxerga a arte que analisa: 
"eu não gosto de comida. Eu AMO comida. E se eu não gosto, eu não engulo."  

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