segunda-feira, 22 de abril de 2019

"A duração de um minuto" - Sawdust and Tinsel (1953)

"A duração de um minuto" é a nova série do blog, focada na filmografia de um dos maiores nomes da sétima arte: Ingmar Bergman. Resumindo? Um filme do diretor por dia, de segunda a quinta, com textinho sobre aqui. Sem leituras posteriores, sem uma extensa pesquisa de contexto nem nada. Apenas minhas impressões imediatamente após o término do longa - a imensa maioria, sendo vistos pela primeira vez por mim - da forma mais crua e direta possível. 

So, série nova no blog, Ímpios. Tinha uma pasta de filmes do Bergman juntando poeira aqui no meu hd externo e decidi que é uma boa hora pra conhecer a obra do diretor sueco e entender pq ele é constantemente descrito como um dos melhores - senão O melhor - diretor de todos os tempos. Já vi, obviamente, o sétimo selo, filme que adoro, mas nunca tinha prestado a devida atenção à sua extensa filmografia. Bom.....  Como já dito, nenhuma hora melhor que "agora" pra começar, certo?
A idéia é bem o que o resuminho introdutório da série, no começo deste post, fala: um filme por dia, um texto comentando, de segunda à quinta. E ao contrário do que eu sempre faço, não vou ler livros e livros sobre pra tentar fazer um contexto do mundo ao redor do artista e da arte que ele produziu, nem nada do tipo. A idéia é ver os filmes, quase todos inéditos pra mim, e logo em seguida vir aqui deixar minhas impressões enquanto elas estão frescas, em textos mais curtos do que os que normalmente posto aqui. Pra quem quiser seguir comigo, vou em ordem cronológica, okay? Teve uma primeira curadoria (entenda-se: enchi o saco de Stella perguntando quais longas ela gosta e quais não), chegando a uma lista de mais de 30 longas. O resto, agora, é com o papai aqui.
So, bora?

Sawdust and tinsel (1953)



Um belo começo, preciso dizer. O filme é estrelado por aquele tipo de enjeitado social que são o foco do olhar de autores como Nelson Rodrigues ou Tennessee Williams: figuras quebradas, tentando do jeito que der, das formas mais bizarras e/ou moralmente questionáveis possíveis, fugir da prisão em que foram colocadas pelo contexto ao redor. Acompanhamos a história dos membros do circo Alberti, excursionando pelo interior da Suécia  no começo do século passado. Nossos protagonistas são Albert, dono do circo e Anna, uma das artistas da troupe, ambas figuras trágicas, tentando abandonar a vida nos picadeiros por uma existência mais "comum". Albert tenta faze-lo voltando para sua esposa, a quem "abandonou" por 3 anos em virtude da vida na estrada. Anna, por sua vez, tenta mudar sua realidade via um relacionamento (com toda a cara de que vai dar errado), com um ator de um grupo de teatro da cidade por onde o grupo está passando. 
O tom do filme, citando Nelson Rodrigues lá em cima, é bem o que vcs podem esperar: quase niilista. Aquelas adoráveis figuras trágicas se mostram impotentes em sua missão de resignificar a própria história, estando fadadas a falharem em suas buscas. A tônica do filme, com palhaços tristes, damas desafiadoras e burgueses em desgraça, me lembrou o pouco que eu conheço de comedia dell'arte e suas figuras como o Arlequim, a colombina, o pierrot, etc. A diferença é que comedia dell'arte geralmente termina com final feliz. O final aqui é ligeiramente agridoce. 
Incapazes de reescrever a própria história, resta aos personagens, depois da catártica constatação a respeito da própria incapacidade, pintar o rosto e voltar a dançar, como diria Haruki Murakami. 
"Dancem, dancem, dancem e nunca parem de dançar". Pq o espetáculo nunca pode parar, certo? E, se continuamos dançando, pelo menos é um sinal de que continuamos vivos. 
Vale mencionar também um comentário meta de Bergman sobre a arte em si, na cena da luta no circo, onde o público, disperso - pra não dizer agressivo - durante quase a totalidade da apresentação, só consegue focar naquelas pessoas de vez quando Albert e o amante de Anna saem na porrada. Além disso, temos também o choque entre os artistas circenses e o grupo de teatro residente. Um aceno do diretor sobre o conflito entre "alta arte" vs "arte popular". Certas coisas não mudam, né? 

a seguir: Sommaren med monika

Nenhum comentário: