terça-feira, 23 de abril de 2019

"A duração de um minuto": Sommaren med Monika (1953)

"A duração de um minuto" é a nova série do blog, focada na filmografia de um dos maiores nomes da sétima arte: Ingmar Bergman. Resumindo? Um filme do diretor por dia, de segunda a quinta, com textinho sobre aqui. Sem leituras posteriores, sem uma extensa pesquisa de contexto nem nada. Apenas minhas impressões imediatamente após o término do longa - a imensa maioria, sendo vistos pela primeira vez por mim - da forma mais crua e direta possível


Só pra efeitos de contexto, escrevo este texto imediatamente antes de ir fazer as resenhas de "therapy patrol", sétimo ep. de Doom Patrol e um dos episódios mais difíceis, em termos de desenvolvimento de personagem, da série. Meu ponto: I'm in a glass full of emotions aqui. 
Plus: hoje mais cedo fui cortar o cabelo e, entre uma história e outra dos barbeiros tendo uma folga pra ir pra praia, um deles disse algo que ressoou fundo em mim e que lembrei no decorrer de "Sommaren med Monika": "Não dá só pra trabalhar, não. A vida tem que ser mais que isso". 
O tema do filme de ontem, "Sawdust and tinsel", continua: gente quebrada e na base da pirâmide econômica, tentando, do jeito que der, fugir do seu papel pré-determinado pela posição que ocupam e, no processo, conseguir uma vida digna de ser vivida. 
Nesse longa, Monika e Harry são dois jovens chegando na vida adulta, ainda com menos de 20 anos de idade. Já naquilo que chamamos de "trabalho das 9 as 5", os dois decidem jogar tudo pro alto e vão morar no barco do tio de um deles. Aí o que acontece é....bom, o que acontece é a vida, né? A incapacidade humana de estar satisfeito. Uma cisão começa a se formar dentre o casal, e os dois tem respostas diferentes para resolver o problema. Harry quer dar a Monika uma família tradicional, papai, mamãe, casa com cercado branco, vida estável e os cacetes. Já a guria quer... algo mais. E obviamente, essa cisão, somada às duas toneladas de expectativas que um deposita no outro, além claro de uma cota razoável de decisões infelizes tomadas de ambos os lados, leva o casal ao ponto de se tornarem iguais a tudo aquilo de que pretendiam fugir no começo do filme.  A partir desse ponto, o final é inevitável. 
Destaque, obviamente, para Harriet Andersson e Lars Ekborg, que, como o casal protagonista, tem que carregar o filme nas costas. Andersson, tb presente no filme anterior como a Anna, outra personagem forte e que domina a história, tá incrível no papel título: a insatisfação dela é muito parecida com a da personagem do filme que eu resenhei ontem, aqui. Mas se a Anna terminava um personagem irritante, ainda que digno de compaixão, Monika acaba digna de mais simpatia, sendo alguém muto jovem, levada pelas circunstâncias até o ponto em que precisa quebrar toda a estrutura em que se enfiou para tentar se reinventar de novo. Harry, tb muito jovem, tb digno de simpatia por tentar adotar o papel de "homem respeitável", ainda que o resultado disso seja se tornar indistinguível do tipo de pessoa que olhava com desdem no começo da história e ter que pagar o preço por tal decisão. 
A direção aqui é algo de extraordinário. Destaque, obviamente, pros dois momentos distintos em que o casal, em seu ponto mais baixo, olha direto pra câmera, resultando em emoções distintas. O olhar de Monika implica certa culpa e uma busca por cumplicidade. O de Harry, a fuga para o passado, procurando pelo momento em que tudo deu errado. Além disso, claro, as cenas de paisagem, contemplativas, abertas, mostrando o mundo como uma caixa de bombons em que tudo é possibilidade e potencial, contrastando com o cenário da casa dos dois, ao final, claustrofóbica. 
Um filme devastador, mas obrigatório. 
"A vida tem que ser mais que isso". Monika concordaria. 

A seguir: Smiles of a summer night

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