quarta-feira, 24 de abril de 2019

"A duração de um minuto": Smiles of a summer night (1955)

"A duração de um minuto" é a nova série do blog, focada na filmografia de um dos maiores nomes da sétima arte: Ingmar Bergman. Resumindo? Um filme do diretor por dia, de segunda a quinta, com textinho sobre aqui. Sem leituras posteriores, sem uma extensa pesquisa de contexto nem nada. Apenas minhas impressões imediatamente após o término do longa - a imensa maioria, sendo vistos pela primeira vez por mim - da forma mais crua e direta possível



Okay que essa série ainda está em seu terceiro capítulo, mas preciso dizer, esse foi o filme mais difícil de ver até agora. Difícil nível "fiquei irriquieto durante boa parte dele".
Motivos: ele é sobre gente rica entediada, tentando achar diversão da forma que dá, com seus joguinhos e intriguinhas e ...e...e... sedução...e...... UUUUUUUUUUUUUUUHHHH que coisa BOOOOOOOOORING...

Sério, pega meio quilo de vidro moído, bota duas bolas de sorvete em cima e me dá pra comer antes de me chamar pra algo remotamente parecido com Dowton Abbey, manja? APESAR DISSO, no entanto, o filme vai tipo montanha russa, me ganhando e me perdendo aqui e ali. O final é bem legal, preciso dizer. 
A historia começa acompanhando um dia normal na vida de Fredrik Egerman e sua jovem - sério, MEGA jovem -  esposa Anne. Tudo muito bom, tudo muito bem, até que ele recebe a notícia do retorno à cidade de um amor antigo, Desiree Armfeldt, atriz de sucesso. Esse retorno e o rebuliço que a volta de Desiree vai causar na alta sociedade local vai desencadear uma série de eventos mudando a vida daquelas pessoas e....se vc está entediado lendo isso, creiam-me, é 1/10 do que eu senti em determinados momentos do longa.
De novo, ele tem altos e baixos: a interação entre Fredrik e Desiree é bem divertida, com diálogos rápidos e tiradas engraçadas entre eles, típico de velhos amigos que se reencontram. O problema é que a partir de um certo ponto, parece que o filme vai encaminhar pra um slice of life sobre a vida de gente rica - envolvendo um plano de Desiree pra separar alguns casais, juntar pessoas que ela quer juntas e conseguir terminar com Egerman. E aí, como eu disse, o filme me perdeu um pouco. 
Segue uma cena de jantar entre a elite local e começam os comentáriozinhos dissimulados, toda aquela pomposidade de gente rica, banquetes, vinho mágico com porra de bicho dentro (literalmente porra de bicho.... Mano, qual é que é de gente rica que entra nessas de comer umas paradas sinistras? Esse é o tipo de gente que eu detesto, que bebe vinho com porra de bicho, que toma café cujas sementes foram tiradas de cocô de gato, que come cérebro de bicho, que acha que foie gras é uma parada maneira, saca? Gente assim que termina entediado até o ponto em que caçadas humanas passam a ser uma idéia interessante, manja? enfim...). 
O filme me ganha de volta quando o jovem Henrik, filho de Fredrik, tem um surto. O guri, dividido entre a vida monástica, estudando pra ser padre, e os prazeres da carne, vendo aquela putaria de verdades desagradáveis e mentiras dissimuladas toca o foda-se e confronta aqueles indivíduos, jogando na cara deles a própria insignificância e futilidade, num momento de auto consciência do longa em que critica o vazio existencial daquelas criaturas, rendendo minhas duas frases favoritas de toda essa obra:



OUCH.... É bem isso. 
E hey, antes que me lembrem do meu teto de vidro: SIM, eu vi cada maldito episódio de cada maldita temporada de "Mulheres ricas". Mas a perspectiva ali é outra: O lance não é a gente invejar aquelas vidas, mas meio que rir daquele show de horrores. Ninguém, NINGUÉM em sã consciência deveria querer ser a mina do frango ou aquela velha com síndrome de Peter Pan que queria ser a Barbie, manja?
Da mesma forma, não é pra menos que Henrik, ultimo bastião moral, ali é o nosso ponto de identificação nessa história. Ainda jovem, capaz de ter certo distanciamento a ponto de poder ver as falhas no estilo de vida da alta sociedade, o jovem decide jogar tudo pro alto, pegar o objeto de sua paixão e partir em direção ao por do sol. HELL THE FUCK YEAH (e não é como se a providência não tivesse sua participação na decisão do guri, vide a cena de seu fracassado suicídio culminando no alvo de suas sentimentalidades aparecendo-lhe quase como num passe de mágica, com uma fuga daquele mundo sendo lhe dada quase numa bandeja). Me lembrou um pouco aquilo daquele poema do.... Fernando Pessoa..... ou um de seus heterônimos? Damn it.... deveria ter prestado mais atenção à essa aula de literatura..... Enfim, quando numa de suas obras ele afirma que se Deus quisesse ser adorado como Deus, ele se apresentaria diante de nós como Deus. Como, no entanto, Deus se apresenta pra gente como Doritos Natchos, gibis do Hickman, dias de menos de 25 graus e jogos de rpg japoneses, ele quer ser adorado como Doritos Natchos, gibis do Hickman, dias de menos de 25 graus e jogos de rpg japoneses e é dessa forma que nós, humildes mortais, deveríamos fruí-Lo.

..... eu tenho quase certeza de que ele coloca isso no poema exatamente com essas palavras..... Tão a frente de seu tempo, não?
.....

... enfim....
O final do filme oferece um arremedo de final feliz praquelas pessoas. Terminamos vendo Petra (a musa de Bergman, Harriet Andersson), empregada de Ergman, e seu "noivo" rolando no feno, carpe diem em seu nível máximo, felizes em achar a felicidade em uma vida simples, sem os luxos de quem tem o $$$ mas distante da fleuma e hipocrisia da elite local. 
Um filme interessante. Perdeu minha atenção aqui e ali mas o problema está em mim, não na trama. Até pq, apesar de certo carinho por aqueles personagens, é óbvio, pelo rumo da história, que Bergman divide comigo o asco por aquele estilo de vida e sua superficialidade.
O olhar é sempre crítico, mesmo quando deposita alguma compaixão por aquela "pobre" gente rica.

A seguir: oooooooh boy.......... bora jogar xadrez com a morte!!!!! \o/

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